Eu sou de Salvador da Bahia, foram as dificuldades que me fizeram vir para Portugal. O desemprego, muita violência. Eu já tinha passado por drogas também. A minha madrasta em Cascais e me convidou para vir e aí eu pensei, indo para Portugal eu vou crescer na vida, mas aí não foi como eu pensei, não é fácil. Estou aqui há 3 anos e acabei por ter de ir viver para a rua porque perdi o trabalho, estava a ajudar um jardineiro, mas quando veio o inverno ele disse que não ia precisar mais de mim e a minha madrasta me botou para fora pois não me podia sustentar. Peguei minha bicicleta e fui para Lisboa. Falei, lá deve ser melhor. Mas aí não, não foi como eu pensei, é pior. Dormia em casas abandonadas e estava muito frio, fui abrigando outras pessoas, mas elas no fim arrumaram problemas. Fui também roubado muitas vezes. A Santa Casa da Misericórdia quis-me mandar de volta para o Brasil, mas eu preferi voltar para Cascais, pois me disseram que aqui têm instituições que ajudam os imigrantes.
Então eu fui no alimento que eles davam ali no sítio perto do mercado, “A Casa” e me perguntaram se conhecia a associação Ser+ e também, “você toma banho?”, e eu, “mesmo no inverno, tomo banho em qualquer lugar, na praia, em qualquer lugar mas não fico sem tomar o meu banho. tenho que ser asseado, eu vivo na rua, não posso viver uma vida de sujeira né?”. Foi assim que conheci a associação. Atrás do banho vieram outras ajudas, principalmente com a imigração que era o principal para mim, mas também atendimento médico, apoio alimentar e outras coisas.
Estão a ajudar-me muito, são a minha segunda família. Agora já não estou a morar na rua, eles pediram a ajuda da Câmara de Cascais e agora estou num apartamento na Torre, à procura de um emprego com a ajuda da minha assistente social. Estou também a estudar o alfabetismo às quintas e sextas.
Há pessoas que têm família aqui que preferem a rua, não dão valor, não querem porque para se ter apoio há regras e eles não querem deixar de beber, não querem deixar as drogas. Preferem a vida como está, do que ter uma vida digna como o ser humano merece, dormir numa caminha agradável, assistir à televisão. Mas eu jamais vou perder esta oportunidade e jogar fora o que estão a fazer por mim. Eu não posso, tenho que dar valor a esta vida nova. É totalmente diferente do Brasil, não tem nada a ver, aqui as pessoas têm mais coração, mais amor. No Brasil falta isso e em muitos lugares no mundo falta isso, o amor da pessoa. Às vezes as pessoas pensam que o dinheiro compra a felicidade, mas eu falo, não. Um abraço, uma ajuda vale mais do que o dinheiro, um apoio. Agora estou à espera que chegue o meu cartão de cidadão português, o meu maior sonho é ser português.