História do Pedro

Sou ali da zona de Carcavelos e cheguei a ser nadador salvador mas, quando tinha 13 anos, fugi de casa pela primeira vez, pois os meus pais discutiam muito e isso fazia-me muita confusão à cabeça. Fiquei a viver na rua. Nos primeiros tempos lembro-me de ter sempre muito frio e de andar sempre à procura e sempre alerta, é a lei da sobrevivência. Depois vieram as drogas e comecei a ir para o Casal Ventoso. Foi lá que uns anos depois conheci um ex-jogador de futebol que decidiu levar-me de volta para casa. Nessa altura tentei deixar as drogas, mas voltava sempre a recair, sozinho não conseguia. Diziam-me que tinha de escolher se queria morrer ou viver e a única coisa que eu queria era viver, mas não conseguia deixar. Cheguei a ter ajuda de um médico, tentei fazer tratamentos em casa, mas sem resultados. Eu queria, mas era um combate na minha cabeça o tempo todo. 

Até que um dia, já tinha 18 anos, um rapaz que morava na minha zona me disse para ir ter com ele no dia seguinte ao Centro Comunitário de Carcavelos onde me podiam ajudar.  Ele também já tinha andado nas drogas, mas já estava bem. Nesse dia a hora tinha mudado e eu estive quase para desistir porque já ia atrasado, mas dessa vez foi diferente. Deu-me qualquer coisa na cabeça, consegui ser mais forte e decidi ir para a comunidade terapêutica. Quando lá cheguei encontrei muitos conhecidos meus que já estavam a conseguir sair do vício. O meu amigo que me levou para lá também me tinha dito “se eu consegui, tu também consegues”.

E comecei a pensar nisso. Nessa altura foi precisa uma pessoa para tomar conta de uma casa da comunidade em Alpiarça e confiaram em mim para esse trabalho. Fiquei com a responsabilidade de gerir o orçamento e andava sempre com as contas muito certas. Tinham tido confiança em mim e não quis estragar essa confiança. Fazíamos muitos passeios, passei a comer melhor e a acreditar mais em mim. Saí de lá com 21 anos.  

Hoje já estou com 49 e tenho sido sempre acompanhado pelo Centro Comunitário de Carcavelos. Nunca mais voltei a viver na rua, agora moro com a minha irmã e vou tendo part-times e fazendo uns trabalhinhos para as pessoas. Recuperei também vários amigos que perdi no tempo das drogas e que não falavam comigo. Agora qualquer coisa que eu precise estão sempre prontos para me ajudar. As pessoas voltaram a confiar em mim e isso foi a melhor coisa que me aconteceu, mostrarem-me que eu poderia ser alguém e que sou alguém. 

Já fiz a minha opção e quero continuar a andar assim, direito. 

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