No atual contexto de crise de saúde pública que estamos a viver, as organizações da Rede Social têm procurado reposicionar o seu trabalho de forma a continuar a assegurar as suas missões. Isto mesmo tem acontecido também com os dois projetos que, no concelho, estão especialmente direcionados para jovens de contextos socio económicos vulneráveis.
O Take.it, nos bairros da Galiza e da Torre e o Orienta.te, em São Domingos de Rana, são cofinanciados pelo Programa Escolhas e promovem percursos de vida positivos de jovens com idades entre os 16 aos 25 anos, apostando na sua autonomia futura.
As famílias com quem habitualmente trabalham vivem em condições socioeconómicas de grande fragilidade e foram particularmente atingidas pelas consequências da pandemia, tornando ainda mais relevante a missão destes projetos.
Para manter o apoio prestado as equipas tiveram que reposicionar estratégias, de forma a não comprometer a sua atividade, adaptando-a às expectativas e novas necessidades dos beneficiários.
Foco numa intervenção mais individualizada
Canceladas as atividades de grupo, que eram propostas e organizadas pelos destinatários e ocupavam diariamente o espaço do Take.it, os técnicos passaram a apostar numa intervenção mais individualizada, investindo na procura de formação profissional e de emprego, tendo em consideração a história e o percurso de cada jovem.
O projeto acompanha 50 participantes na Galiza e outros 50 na Torre, na sua maioria rapazes pois, como refere a técnica Ana Carapinha, estes “são um público com mais desemprego e mais desocupado.” As raparigas mostram ter uma maior capacidade de organização e, assim que conseguem encontrar emprego, tendem a “afastar-se da dinâmica do espaço”.
Mediação com serviços fundamentais
Ainda no projeto Take.it, com a interrupção das atividades de grupo passou a ter uma nova relevância a atividade “Wake Up Plus“, que consiste em mediar o acesso a serviços fundamentais como a Segurança Social, as Finanças ou o Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Ana Carapinha refere que a procura desta resposta aumentou bastante devido ao facto da maioria dos serviços passarem a ser exclusivamente contactáveis online ou pelo telefone e “a maior parte dos jovens não ter facilidade em resolver assuntos via e-mail ou pelo telefone”.
Famílias sob pressão
Joana Gomes, técnica do Orienta.te e responsável pela atividade Em.Família promovida pelo projeto, conta que esta iniciativa surgiu por a equipa ter percebido que o trabalho alargado ao núcleo familiar permitia que a intervenção junto dos jovens chegasse “mais longe e eles conseguissem manter as suas escolhas”.
A atividade assenta numa abordagem de proximidade e em visitas ao domicílio, que permitem aos técnicos aproximarem-se das famílias e, desta forma, compreenderem melhor “o seu mundo”, facilitando o apoio necessário.
Joana Gomes conta que a pandemia veio obrigar a alterações na forma como se faz este acompanhamento. A intervenção deixou de se fazer presencialmente e passou a ser feita pelo telefone, individualmente, com cada membro da família. Na ausência de meios informáticos e ligações à internet na grande maioria destas habitações, a opção foi usar o telefone. Um meio que, refere, acaba por facilitar esta proximidade e possibilitar um contacto mais frequente.
Resultados positivos que não se perdem
Em quatro anos de existência desta atividade já foram acompanhadas 50 famílias e, atualmente, está a ser dado apoio a 10. Mas, segundo Joana Gomes, “a pandemia veio mudar a estrutura das famílias” despoletando situações de crise que fizeram surgir novos pedidos de ajuda, em especial de famílias que já conheciam o projeto e que agora retomaram o contacto.
A técnica responsável pelo Em.Família está satisfeita por, apesar de tudo, ser possível prosseguir este trabalho, ao qual atribui impactos muito positivos. Entre estes, destaca as melhorias na comunicação entre pais e filhos, entre irmãos e entre casais e “uma procura muito mais ativa dos jovens no sentido de seguirem os seus sonhos, sem terem que fazer um corte com a família”. Um grande progresso, pois, como explica, “estamos a falar de famílias que têm que se ajudar muito entre si e, às vezes, prendem-se uns aos outros sem querer”.