A Rede Social Cascais está desde 15 março a registar e tratar os dados das pessoas que contactam a Linha de Apoio Sénior, que já realizou mais de 4 mil atendimentos. Esta resposta foi pensada para proteger as pessoas mais velhas, pois estas foram objeto de especiais restrições devido a sua vulnerabilidade à doença COVID-19. Permitiu que estas pessoas não ficassem privadas de serviços básicos pelo impedimento de sairem de casa. O registo e a contabilização dos dados dos atendimentos realizados nas Juntas de Freguesia tornaram visível a realidade dos idosos que vivem sozinhos e que não têm uma rede familiar próxima que os pudesse apoiar durante a pandemia.
São 643 do total de munícipes atendidos com idade igual superior a 65 anos e que se encontram isolados, com uma média de idades de 75 anos. Olhando com mais detalhe, 461 têm mais de 70 anos (72%), desses, perto de metade (201, 44%) têm mais de 80 anos e cerca de 6% (26) são pessoas muito idosas com mais de 90 anos. Mais de dois terços destas pessoas são mulheres.
Um fenómeno invisível?
Estes dados não surpreendem Maria do Céu Rito, Técnica de Serviço Social da União de Freguesias Carcavelos-Parede, que se manteve no terreno , na linha da frente durante a fase mais crítica do confinamento. Estão em situação de isolamento social “um elevado número de idosos, na maioria mulheres, que têm filhos a viverem distantes”. Encontra uma explicação para o isolamento no facto de familiares e pessoas mais próximas estarem impossibilitados de prestarem assistência. Identifica vários factores como o económico, o emprego e o elevado preço das habitações que levam à mudança de local de residência e ao afastamento dos filhos.
Idosos que vivem com idosos
Outro aspecto que ressalta, é que alguns idosos estão acompanhados por pessoas igualmente idosas ou muito idosas, que numa situação de confinamento obrigatório não permite que se ajudem mutuamente, estando igualmente dependentes do apoio externo ao agregado familiar para fazerem face às suas necessidade de alimentação, medicação ou outros bens de primeira necessidade. É frequente que a esta vulnerabilidade de juntem problemas de saúde como doenças oncológicas , cardiovasculares, respiratórias ou diabetes, às vezes acumulando mais do que uma condição de saúde de risco.
A descoberta de novas situações
A Linha de Apoio Sénior “permitiu-nos, sem dúvida, uma maior aproximação à população idosa e ter perceção maior da importância dos contactos que estabelecíamos diariamente com cada um deles.” Isto pode explicar o feedback muito favorável que o serviço obteve por parte dos beneficiários. Além de que, as Juntas de Freguesia alargaram o conhecimento sobre o universo de idosos nos seus territórios, pois um numero significativo de novos contatos são de séniores que não frequentam qualquer resposta dirigida a este público, como centros de dia ou convívio, ou universidades séniores.
Interior e litoral: duas realidades diferentes.
Os dados mostram que foi nas freguesias do litoral do concelho que os idosos isolados mais recorreram à Linha de Apoio Sénior. O Diagnóstico Social mostra-nos que também é nestas freguesias que existe uma proporção maior de cidadãos com mais de 65 anos, que constituem respectivamente 25% e 35% dos residentes de Carcavelos-Parede e Cascais-Estoril.
Do total dos idosos isolados que contactaram a Linha, 22% são residentes nas freguesias de Alcabideche e S. Domingos de Rana, sendo os restantes 78% residentes nas freguesias do litoral. Segundo Maria do Céu Rito, a explicação para esta disparidade pode residir no nível de literacia e autonomia para aceder a informação sobre os apoios disponíveis, havendo um peso elevado de idosos com um nível de escolaridade acima da média e com capacidade económica para suportar as despesas relacionadas com a alimentação e medicação.
A Linha e o combate à solidão
“Com base na opiniões por eles manifestadas, os cuidados domiciliários deveriam ser de continuidade de forma a se sentirem mais seguros e protegidos”, revela Maria do Céu Rito reforçando que, num contexto de incerteza quanto à evolução da situação pandémica, é fundamental manter os contactos regulares com os idosos para quem o acesso ao apoio da Linha Sénior foi também um veiculo de combate à solidão e ao isolamento.
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