“Intervir na Saúde Mental em Alcabideche”, foi o tema do workshop promovido pela Comissão Social de Freguesia (CSF) de Alcabideche, que decorreu no Auditório S. Vicente de Alcabideche, dia 8 de novembro. A abertura do workshop coube a José Filipe Ribeiro – Presidente Comissão Social da Freguesia de Alcabideche que congratulou o respetivo Núcleo Executivo pela organização do workshop, enquadrado na medida 5.8. do Plano Estratégico de Desenvolvimento Social da Rede Social de Cascais que visa criar momentos de partilha e debate sobre determinadas áreas temáticas previamente identificadas, acrescentando conhecimento e refletindo sobre necessidades emergentes que possam estar a descoberto na freguesia. De seguida deu a palavra ao Vereador Frederico Pinho de Almeida que destacou a importância da resposta de 1ª linha que a Junta de Freguesia tem prestado na área da Saúde Mental.
No painel da manhã, a CSF de Alcabideche convidou para o papel de moderadora Sandra Tavares – Presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Cascais (CPCJC) e como oradoras seis profissionais na área da saúde mental com a missão de partilharem experiências, conhecimentos e preocupações.
A primeira participação foi de Andreia Tavares, Psicóloga da Câmara Municipal de Cascais que apresentou à plateia o Programa Unidade Saúde + como uma resposta de proximidade, gratuita, na área da Saúde Mental e de Apoios Terapêuticos Especializados. Decorre desde fevereiro de 2023, é financiada pela CMC e é dirigido a munícipes a partir dos 7 anos de idade que poderão ser residentes, estudantes ou trabalhadores em situação de maior vulnerabilidade económica e social. O Programa presta um conjunto de respostas de Apoios Terapêuticos Especializados, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, a Prevenir, a AISA, o Manicómio, a Barragem e ainda durante o mês de novembro, a ABLA.
A Enfermeira Especialista Cidália Antunes do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital de São Francisco de Xavier. Apresentou os objetivos e as respostas existentes no novo Núcleo Local de Saúde Mental em Cascais e destacou o facto, de no concelho se promover a capacitação dos profissionais, que pode ser mobilizador para criar mais respostas e maior sensibilização à prevenção e à intervenção.
A psicóloga Luísa Humanes do Agrupamento de Escolas IBN Mucana e a Terapeuta Familiar Cristina Magalhães do Agrupamento de Escolas da Cidadela partilharam a sua visão sobre a intervenção desenvolvida nos agrupamentos de escola. Vários alunos têm recorrido ao serviço de orientação vocacional devido a sintomas de ansiedade e fobia social, o que obrigou o agrupamento de escolas IBN Mucana a adaptar-se e a apostar na prevenção. Nesse âmbito, foram criadas iniciativas que pretendem trabalhar com os alunos competências socio emocionais. Ainda são desenvolvidas palestras sobre ansiedade e sexualidade, nas quais pais, professores e funcionários também estão incluídos.
Cristina Magalhães terapeuta familiar no agrupamento de escolas da Cidadela trabalha com alunos do pré-escolar, 1º ciclo e 2º ciclo. Explicou que o seu modelo de trabalho é a intervenção sistémica. Muitas vezes, articula com os serviços que atuam na área de saúde mental, nomeadamente com o serviço de pedopsiquiatria.
A enfermeira Hortênsia do ACES de Cascais referiu que a saúde escolar é uma área de grande relevância porque promove a capacitação das crianças e das famílias permitindo-lhes fazer melhor escolhas em saúde. A enfermeira sublinhou ainda a forte presença do ACES de Cascais no concelho com um elemento de referência em cada agrupamento de escola.
Sandra Pinto – Psicóloga Clínica do Aces de Cascais salientou que os profissionais do ACES de Cascais procuram sempre, dar a melhor resposta, seja ela intervenção existencial quando necessária, ou intervenção não existencial, através de parcerias, programas e estratégias de promoção e de prevenção. A psicóloga reforçou que a parceria existente com a autarquia, tem possibilitado desenvolver uma série de programas e projetos, no sentido de caminhar para uma estratégia de promoção e prevenção em saúde mental.
No período da tarde, o tema da intervenção mental continuou a ser debatido com enfoque na população adulta. Para este painel, a CSF de Alcabideche convidou Isabel Passarinho da Câmara Municipal de Cascais como moderadora da conversa entre seis profissionais que intervêm na área da saúde mental.
Andreia Tavares deu o mote para o diálogo com a apresentação do Programa Unidade Saúde +. Esclareceu os objetivos e os critérios de admissão do projeto e elucidou os critérios de exclusão: quadros das dependências (consumos ativos de drogas e álcool), perturbações alimentares com valência física e quadros ao nível de psicopatologia mais pesada (como são as situações de esquizofrenia).
A representar o Serviço Social do Hospital de Cascais esteve presente Andreia Marques que identificou os problemas sociofamiliares mais comuns no serviço de psiquiatria. Entre eles destacou situações de rutura e conflitos familiares, situações de rejeição familiar, saturação do cuidador, rejeição da alta por parte dos familiares, isolamento social e familiar, agressões físicas e psicológicas do doente para com os familiares, entre outros. Ao nível dos problemas sócio económicos, Andreia Marques identificou a insuficiência económica, ausência de rendimentos e a má gestão dos recursos por parte dos doentes, muito deles em situação de sem-abrigo.
Teresa Gabriel apresentou a ARIA caracterizando as respostas e o universo de utentes integrados na instituição de saúde mental. Referiu que cerca de metade dos utentes têm um diagnóstico de esquizofrenia e psicoses. A outra metade divide-se entre a doença bipolar, a depressão grave, a perturbação obsessiva compulsiva, algumas perturbações de personalidade e poucas de Asperger. Para a instituição o trabalho em parceria permite adequar a intervenção às necessidades das pessoas. Este equipamento não presta consultas médicas, apenas acompanhamento individual de pessoas estabilizadas. A característica do Fórum Sócio Ocupacional da ARIA, enquanto resposta tipificada para a saúde mental, é ajudar as pessoas estabilizadas com doença mental grave e crónica a voltar à sua integração na sociedade, a estudar em muitos casos e noutras situações a voltar a trabalhar. Apesar da integração destas pessoas ser um processo difícil devido aos obstáculos impostos pela comunidade, Teresa Gabriel revela que mais recentemente tem se observado melhorias. Esclarece que é possível ter saúde mental, mesmo existindo um diagnóstico de doença mental.
O Centro do Pisão é um equipamento do Instituto da Segurança Social gerido pela Santa Casa da Misericórdia de Cascais, onde estão integrados adultos com patologia psiquiátrica (275 homens e 65 mulheres). O diagnóstico desta população passa pela doença mental (psicoses, esquizofrenias) e deficiência mental. Segundo as terapeutas Telma Santos e Maria João Nogueira, os profissionais do Centro do Pisão têm a missão de melhorar a qualidade de vida das pessoas integradas na instituição. Ao longo dos anos houve vários polos de mudança e um deles foi a introdução do Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI). Esta resposta encontra-se organizada pelo Polo de Conforto e Bem-Estar, Polo Ocupacional e Polo Oficinal.
Por fim, o testemunho das contracurvas da vida de Rita Santos Almeida, utente do Centro do Pisão desde 2016. Aos 21 anos Rita sofreu um acidente que lhe provocou traumatismo craniano com sequelas até hoje. Afetou-lhe a capacidade de raciocínio, de concentração e aquisição de conhecimentos. Com a sua integração no Pisão, passou a desenvolver diversas atividades que lhe proporcionaram bem-estar. Começou a sentir-se mais útil, independente, autónoma, valorizada e reconhecida. Esta integração deu-lhe uma perspectiva de futuro e de sonhar mais alto. Expressou que o seu sonho seria viver com o namorado numa casa fora do Pisão. Gostaria de viver para além das contracurvas da vida.